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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Isso sim é rezar, por Frei Patricio Sciadini

A oração é chuva benfazeja que fecunda o deserto e o transforma em planícies fecundas. Ela é a autêntica escola onde conhecemos a nós mesmos, é um espelho onde somos chamados a olharmo-nos e aí reconhecermos o nosso rosto como imagem da Face Maravilhosa de Deus. Os místicos têm a plena consciência de que nos espelhamos nele, onde nos reencontramos, e Deus se espelha em nós. Na oração descobrimos o incognoscível pela inteligência, mas possível de ser conhecido pela fé.Não é possível fugir de Deus, porque isso seria fugir de si mesmo. O Senhor persegue docemente. A sua voz e presença arrebatam, como no episódio da sarça (cf. Ex 3,2), introduzindo no encanto maravilhoso que queima e não se consome.Rezar com seu jeito de serA oração não substitui minha personalidade nem exclui os sentimentos. Ao contrário, ela devolveu a minha autêntica “identidade”. Hoje, depois de percorrer tantas estradas e atalhos que, em vez de me levarem para perto de Deus, levaram-me para longe, sinto que na oração posso ser eu mesmo, às vezes ferido, sangrando ou em farrapos, porém, eu mesmo. Santo Agostinho suplicava que o Senhor o “estraçalhasse” se isso fosse o seu amor, que o queimasse não o privando da Salvação. É no deixar-se amar pelo Senhor que o amor humano se vê levado a purificar-se para um aprofundamento. Deus não quer na sua presença teatros, máscaras ou outras personalidades com o intuito de aparentar beleza. A oração, às vezes, é dança de amor que tenta seduzir o seu Deus com a beleza dos passos, do canto, da harmonia; em outros momentos se faz gemido, grito de extremo sofrimento que tenta aproximar-se de Deus pelo caminho das lágrimas e da dor. Para ela é válido o caminho da desnudez e total despojamento. Sua simplicidade pode somente ser captada pelos caminhos da fé. Através dos caminhos divinos as características humanas são elevadas. A oração é uma necessidade interior inesperada, que obriga a parar e esconder o rosto entre as mãos e sussurrar: “Meu Deus, eu te amo!”. Para rezar bem é indispensável deixar-se levar pelas ondas do coração e pela força do acreditar. Quando o vento do sentimento vem a faltar, entra em ação o vento forte da fé, que empurra o barco da vida contra a correnteza, até que cheguemos ao porto da paz e da tranqüilidade.É antes de tudo diálogo, relacionamento de amor e de amizade que vai crescendo lentamente e alarga-se nos outros. Não é possível rezar e não sentir interiormente as alegrias e os sofrimentos que agitam a vida dos nossos irmãos. É importante descobrir a oração como momento de auto-conhecimento. Dizia Santo Agostinho: “Que eu te conheça, Senhor, para que me conheças”. Estou convencido que o nosso melhor terapeuta, psicólogo e psicanalista é o Senhor que, na intimidade, vai revelando a íntegra do “eu”, fazendo sentir as mudanças que são necessárias na vida.Rezar não é algo mecânico nem um exercício físico, mas um entregar-se ao Senhor da vida, para que atue o seu projeto. O orante não tem mais “desejos próprios” nem “vontade própria”, porque aprendeu a ter como única vontade a do Senhor, que se manifesta no cotidiano. Não pode ser algo forçado, imposto, é como água borbulhando no fundo; é água viva que vai jorrando e fecundando vida nova em todas as áreas do ser. Para Santa Teresa de Ávila, mestra da oração, o ato de rezar gera uma harmonia e um desenvolvimento de todos os nuances da pessoa. Para ela, “as almas que não rezam são como um corpo estropiado ou paralítico que tem mãos e pés mas não os podem mover... Há almas tão enfermas e tão habituadas às coisas exteriores que não há remédio nem parecem poder entrar em si mesmas” (1 M 1,6).Vai criando fortes convicções e alicerça a vocação individual, tornando a pessoa capaz de resistir a todas as dificuldades que pode encontrar. É fonte de fortalecimento da vontade, orienta, ilumina e sustenta todos os passos no caminho da permanente conversão.Rezar com seu jeito de ser e viver é não ter medo de si mesmo, de se olhar para ver as feridas, não desanimar diante dos fracassos e sempre retomar o caminho para chegar à meta da ‘forte amizade com Deus’.Três virtudes me parecem importantes se queremos rezar como somos: humildade, sinceridade e abandono.Rezar com humildadeA humildade é a virtude que nasce da consciência de descobrir-se pecador necessitado e pobre. O que mais atrapalha no relacionamento com Deus e com os outros é o orgulho, o sentimento de superioridade e de não se achar necessitado de nada.A auto-suficiência é o pecado do mundo de hoje, onde costuma-se ouvir milhares de vezes por dia que é preciso ser independente. Isto pode ser verdade no plano humano, e o deve ser num certo sentido, porém não é aplicável no plano espiritual. Como podemos esquecer as palavras de Jesus: “Sem mim nada podeis fazer” (cf. Jo 15,5)? A humildade é virtude que faz dobrar os joelhos e o pescoço diante da grandeza de Deus. Convida a prostrar com o rosto por terra e clamar ao Senhor que cubra com Sua misericórdia e amor. É terreno fértil de onde brota a flor bela e perfumada da oração. Aliás, o orante, quando é humilde, não pede, simplesmente apresenta a sua enfermidade, estende a mão e tem no coração a certeza de que o Senhor a encherá com suas bênçãos e graças. A humildade se faz silêncio, adoração. Rezar com sinceridade e abandonoSer sincero na nossa oração quer dizer, antes de tudo, refletir bem sobre o que e como pedir. Ser sincero é “despojar-se diante de Deus” e mostrar, sem vergonha e sem enfeite, as feridas mais íntimas. Poder dizer ao Senhor: “Tu me conheces e sabes do que necessito, não me dês, Senhor, o que te peço, mas o que vês ser-me necessário para viver no teu amor e na tua presença”. Pedir ao Senhor que mostre a situação de pecado, que ensine como cortar todos os laços que impedem a felicidade diante de Deus.Rezar com sinceridade significa usar as palavras correspondentes à realidade, e não “simplesmente palavras”; isto não é um jogo de vocábulos, mas um compromisso de amor. Deus quer se relacionar com cada homem na sinceridade do desejo e das palavras. O abandono é a virtude de quem reconhece a própria pequenez e incapacidade, mas confia naquele que tudo pode. É a virtude da criança que se coloca nas mãos do pai, confiando que Ele cuidará dela. Santa Teresinha dizia que “o abandono é a mais perfumada flor do amor”. A oração, para ser verdadeira, exige essa total entrega, esse abandono em Deus.Para terminar...Cada um deve saber encontrar o seu “jeito de rezar, de dialogar com o Senhor, de se aproximar dele” com humildade e sinceridade. Não ter medo de mostrar a Ele as feridas, cantar as suas misericórdias, relatar as derrotas e contar os sucessos. Revelar-se como é, no estado em que se encontra, então Deus se revela como Ele é: Amor.O espelho da oração é a oração de Jesus: o Pai-nosso. O Filho comunica-se com o Pai do jeito que é, totalmente interessado pelas coisas do Reino e preocupado ensinar como rezar, em mostrar toda a sua humanidade e solicitar, na humildade e sinceridade, o pão de cada dia, o perdão e a proteção contra as tentações. “Pai nosso, que estais nos céus, santificado seja o vosso nome. Venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém”.
FIQUEM COM DEUS

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